A lactose, conhecida como açúcar do leite, é um carboidrato formado por duas moléculas ligadas entre si: a glicose e a galactose. A enzima lactase, que está presente no intestino, rompe essa ligação liberando essas moléculas para serem absorvidas.
A má digestão da lactose ocorre pela redução da capacidade do corpo em quebrar a lactose. Essa condição é chamada na área médica de hipolactasia e causa uma diminuição na produção da enzima chamada lactase. Nos seres humanos essa enzima é geneticamente programada para ser produzida nos primeiros anos de vida, embora existam indivíduos que continuem produzindo lactase até a idade adulta. Essa redução da enzima lactase (a hipolactasia) é a causa da intolerância à lactose.
A intolerância à lactose acontece quando a atividade da enzima lactase é reduzida na parede do intestino delgado e, por isso, o indivíduo tem sintomas abdominais após a ingestão de alimentos ricos em lactose, como por exemplo o leite de vaca e todos os seus derivados.
Quais são os sintomas da intolerância à lactose?
Os principais sintomas da intolerância à lactose incluem flatulência, dor e distensão abdominal, e diarreia. Eles são causados pela lactose não digerida que passa do intestino delgado para o cólon. Aqui, as bactérias presentes fermentam o açúcar não absorvido, produzindo alguns componentes, como ácidos graxos de cadeia curta e gases (dióxido de carbono, hidrogênio e metano).
A produção de gás é o que resulta em flatulência, distensão abdominal e dor. Além disso, a lactose que não foi absorvida também tem um efeito osmótico no trato gastrointestinal, ou seja, move o líquido de fora do intestino para dentro, causando a diarreia.
Conseguimos digerir a lactose em algum momento da vida?
Durante a amamentação nós somos capazes de digerir a lactose, mesmo porque ela se encontra no leite materno e é essencial para o desenvolvimento do bebê. Após o desmame, ocorre uma redução da atividade da lactase que, ao que parece, é programada geneticamente na maioria das populações do mundo, mas o motivo de isso acontecer ainda não é claro.
Além disso, o grau de intolerância pode variar e acontecer em diferentes fases da vida. Por exemplo, aos 18 anos o intestino de uma pessoa pode reduzir ou mesmo cessar a produção de lactase, entretanto pessoa outra poderá ingerir leite e derivados o resto da vida normalmente.
Os produtos lácteos variam entre si quanto ao teor de lactose (veja tabela abaixo). Vale a pena pesquisar qual o teor do açúcar nos produtos que você e avaliar quais estão causando mais ou menos sintomas.
TEOR MÉDIO DE LACTOSE NOS PRODUTOS LÁCTEOS 2
Todos estão geneticamente predispostos à intolerância à lactose?
Chama a atenção a estimativa de que 57% dos brasileiros brancos e mulatos possuem o gene da hipolactasia primária, podendo ocorrer em até 80% dos negros e 90% de asiáticos (japoneses e chineses)1. Por isso, uma quantidade de pessoas considerável tem a predisposição de desenvolver a intolerância à lactose e muitos ainda tem pouca informação sobre o assunto.
Existe outra condição em que a intolerância à lactose surge por causa de doenças intestinais que é o caso das enterites infecciosas, doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e Síndrome do Intestino Irritável), diverticulite, doença celíaca e até mesmo anemia. Essa é a hipolactasia secundária, que é uma condição transitória e reversível.
A deficiência congênita ocorre quando a criança já nasce sem condições de produzir lactase. É uma forma rara, mas que pode colocar a vida do bebê em risco se não detectada a tempo.
Como é o diagnóstico de intolerância à lactose?
O médico é o responsável pelo diagnóstico de intolerância à lactose. Além de utilizar a avaliação clínica, ele pode optar por outros tipos de exames.
É possível fazer exame de dosagem de lactase na parede do duodeno, um exame extremamente sensível e preciso, mas invasivo e, por isso, incomum.
Avalia-se também a capacidade de digestão de lactose por um teste oral, no qual o paciente ingere uma quantidade do açúcar e a glicemia é dosada antes e depois. Se o indivíduo for capaz de digeri-la, a glicemia aumenta em 20mg/dL.
A dosagem de hidrogênio emitido através da expiração também é uma forma de diagnóstico. A fermentação da lactose pelas bactérias aumenta a produção de hidrogênio, que será absorvido pelo intestino e parcialmente eliminado pelos pulmões.
Como é o tratamento de intolerância à lactose?
Uma vez diagnosticada a intolerância, o médico e o nutricionista são os profissionais de saúde que poderão lhe ajudar a organizar o cardápio necessário para sua dieta. Alguns itens deverão ser retirados no início e, posteriormente, podem ser reintroduzidos após avaliação médica.
Inserir alimentos fontes de cálcio e de proteína é uma das prioridades. Agrião, espinafre, rúcula, brócolis, couve, gergelim, amêndoas e aveia são algumas delas. Segundo estudos científicos, alguns probióticos são capazes de modificar a flora intestinal, aumentando a produção de lactase e favorecendo a digestão de produtos lácteos.
Uma outra possibilidade é a ingestão de complementos feitos com a enzima lactase.
De qualquer forma, não retire o leite e seus derivados por ter se identificado com os sintomas descritos aqui. Procure seu médico de confiança e conversem sobre o assunto!
Referências:
1 Alergia ao leite de vaca e intolerância à lactose
2Intolerância à Lactose e produtos lácteos com baixo teor de lactose
Mattar R. Intolerância à lactose: mudança de paradigmas com a biologia molecular. Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 230-6.
British Nutrition Foundation. Lactose intolerance.
Heyman M. Lactose Intolerance in Infants, Children, and Adolescents. Pediatrics Vol. 118 No. 3 September 1, 2006.
Drauzio Varella. Intolerância à lactose.
Laboratório Fleury. Lactose, Prova de Absorção, plasma.
Mayo Clinic. Lactose intolerance.
Chris Kesser. How to cure lactose intolerance.